quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia da Terra: O papel do jornalismo na cobertura ambiental



Datas como o Dia da Terra fazem com que a mídia dedique um espaço maior nos noticiários a temas como água, preservação da natureza, reciclagem, aquecimento global. Os telespectadores e leitores também tendem, por tabela, a pensar mais sobre o assunto. Mas isso faz com que eles se mobilizem e tomem alguma atitude? O trabalho dos jornalistas permite que as pessoas entendam a dimensão e as peculiaridades do que está acontecendo?

O papel da imprensa na divulgação de informações sobre meio ambiente foi discutido ontem no 6º Colóquio Andi, organizado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância, que teve como tema “Jornalismo e desenvolvimento: reflexões sobre a agenda das mudanças climáticas”. O evento fez parte do 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, organizado pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ)*.

O colóquio abordou os principais problemas que envolvem a cobertura jornalística ambiental. O cientista social Fábio Senne, da Andi, mostrou o trabalho que a agência desenvolve no monitoramento de notícias sobre clima. Foram analisados 50 jornais brasileiros entre 2005 e 2008. Notou-se que a demanda de informações sobre mudanças climáticas cresceu (e, com isso, é necessário que o profissional do jornalismo pense seu papel nesta área), mas que a discussão sobre aquecimento global e a discussão sobre sustentabilidade ainda não são feitas em conjunto. Senne ainda ressaltou que, nos jornais, estes assuntos não devem ser debatidos em um único caderno (o de política, o de economia, etc.), mas em vários.**

Carlos Fioravanti, jornalista especializado em coberturas de ciência e meio ambiente, comparou as imprensas inglesa e brasileira, tomando como referências o The Independent e a Folha de São Paulo. Segundo ele, a imprensa no Brasil dá um enfoque fatalista, enquanto na Inglaterra o discurso é mais voltado para o que fazer e a possibilidade de agir. Fioravanti sugere que a mídia não valorize só as falas dos especialistas, mas dê voz para outros atores, estimulando o debate. Também defendeu que deve ser evitado o maniqueísmo (o pensamento de que determinada coisa ou pessoa está ou totalmente certa, ou totalmente errada).

O também jornalista, sociólogo e professor da Universidade Estadual da Paraíba, Cidoval Morais de Sousa, fez suas considerações: está preocupado com o fato de as ações individuais serem mais valorizadas que as coletivas, critica a falta de cobertura dos problemas locais e acredita que as comunidades tradicionais não estão sendo ouvidas. Ele também questiona a contradição entre capitalismo e desenvolvimento sustentável e a postura dos jornalistas de se preocupar mais em atender ao mercado do que refletir sobre a profissão. No debate final, Fábio Senne ainda ressaltou que as crianças e adolescentes são o público mais afetado pela cobertura climática.

Finalizo com dois questionamentos, para reflexão. Aos jornalistas: o compromisso com a informação é mais forte que as exigências do ambiente profissional? Ao público: as notícias estimulam você a repensar seu comportamento?

Felipe Saldanha

* A professora Mirna Tonus, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e do FNPJ, está lá cobrindo o evento pelo Twitter (acompanhe pelo @FNPJ). Obrigado pela dica, Mirna!

** Os slides da apresentação de Fábio Senne estão disponíveis aqui.

Com informações do site e twitter do FNPJ e Blog do 13º ENPJ.

Foto: emsago/stock.xchng

domingo, 18 de abril de 2010

Belo Monte: perguntas e respostas

Nascer do sol em Altamira (PA), uma das principais cidades da região onde está prevista a construção de Belo Monte. (Foto: J. Gil/Flickr)

Trechos retirados de matéria da BBC Brasil (via G1).

O que é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? 

Com projeto para ser instalada na região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, a Usina de Belo Monte deve ser a terceira maior do mundo em capacidade instalada, atrás apenas das usinas de Três Gargantas, na China, e da binacional Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.

De acordo com o governo, a usina terá uma capacidade total instalada de 11.233 Megawatts (MW), mas com uma garantia assegurada de geração de 4.571 Megawatts (MW), em média.

Quem são os grupos contrários à instalação de Belo Monte e o que eles argumentam? 

Entre os grupos contrários à instalação de Belo Monte estão ambientalistas, membros da Igreja Católica, representantes de povos indígenas e ribeirinhos e analistas independentes.

Além disso, o Ministério Público Federal ajuizou uma série de ações contra a construção da usina, apontando supostas irregularidades.

Coordenador de um painel de especialistas críticos ao projeto, Francisco Hernandez, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, afirma que a instalação de Belo Monte provocaria uma interrupção do rio Xingu em um trecho de cerca de 100 km, o que reduziria de maneira significativa a vazão do rio.

"Isso causará uma redução drástica da oferta de água dessa região imensa, onde estão povos ribeirinhos, pescadores, duas terras indígenas, e dois municípios", diz Hernandez, que afirma que a instalação de Belo Monte também afetaria a fauna e a flora da região.

Como o governo responde a essas críticas? 

De acordo com o diretor de Licenciamento do Ibama, Pedro Bignelli, uma das condicionantes impostas na licença prévia para o empreendimento determina que seja mantida uma vazão mínima no rio.

Além disso, ele afirma que há projetos de preservação da fauna e flora e que as comunidades que forem diretamente afetadas serão transferidas para locais onde possam manter condições similares de vida. Ele também nega que as comunidades indígenas serão diretamente atingidas.

Para saber mais, recomendamos a leitura da matéria do Diário do Pará.

TRF derruba liminar que suspendia leilão de Belo Monte

Do G1:

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em Brasília cassou nesta sexta-feira (16) a liminar que impedia a realização do leilão [que decidirá qual será o consórcio de empresas responsável pela construção] da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). [...]

O desembargador federal Jirair Aram Meguerian, que suspendeu a liminar, concluiu que não existe perigo iminente para a comunidade indígena e que a não-realização do leilão traria prejuízos à economia pública.

A liminar havia sido concedida pela Justiça Federal do Pará após pedido do Ministério Público Federal do estado, que moveu ação civil pública apontando irregularidades no empreendimento.

A promotoria lembrou a falta de regulamentação do artigo 176 da Constituição e alega que seria necessária a edição de uma lei ordinária para a construção de hidrelétricas em área indígena.

domingo, 11 de abril de 2010

A Amazônia e os números


Depois de tanto falar sobre aquecimento global aqui no Blog, resolvemos abordar essa semana outro assunto igualmente importante (mas, de certa forma, relacionado): o desmatamento da Amazônia.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou a menor taxa anual de destruição da floresta desde o início do monitoramento, em 1988: foram 7 mil km², de agosto de 2008 a julho de 2009. Diante destes dados, a nova ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou na última quinta-feira (8 de abril) – em sua primeira coletiva de imprensa após assumir a pasta, no dia 31 de março – que o governo deve revisar a meta de redução do desmatamento.

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, aprovado no fim do ano passado, prevê que o desmate deve diminuir em 80% até 2015. Mas, segundo Teixeira, no fim de 2011 a meta já poderá estar “muito abaixo” deste valor (equivalente a 6,5 mil km² de área desmatada por ano). Sem especificar valores, mas afirmando que será ousada, a ministra declarou que pretende levar a nova meta à COP16 (“sucessora” da COP15), a ser realizada no final deste ano em Cancún, no México.

Outro dado divulgado na coletiva, também anunciado pelo Inpe, foi a queda de 51% no desmatamento da floresta amazônica de agosto de 2009 a fevereiro de 2010, comparado ao mesmo período anterior. O Inpe detectou ainda redução de 90% na derrubada de árvores na Amazônia em janeiro deste ano, em comparação a janeiro de 2009.

Todos estes números podem ser animadores e sinalizar que o desmatamento está sendo controlado. Porém, é preciso ter um olhar crítico. Em primeiro lugar, quais são as reais implicações destes dados? O Inpe não recomenda a comparação entre imagens de satélite de períodos diferentes porque as nuvens interferem na medição, dificultando o trabalho de análise. Não há dados sobre o desmate em dezembro, por exemplo, porque toda a área de floresta estava encoberta. Na medição de janeiro, alguns estados chegaram a ter mais de 95% de cobertura de nuvens, como Amapá e Pará. Isso pode fazer com que áreas desmatadas em determinado mês só sejam detectadas mais tarde, em outras medições.

Em segundo lugar, outros dados sobre a Amazônia já não são tão empolgantes. Se, por um lado, em janeiro foi registrada queda, por outro, a taxa de desmatamento em fevereiro de 2010 aumentou 29%, se comparada ao mesmo mês no ano passado. O Ministério do Meio Ambiente atribuiu o crescimento justamente ao menor número de nuvens. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que faz um monitoramento independente, registrou, no mesmo período, aumento de 41% – uma comparação que, novamente, não é exata, por causa das nuvens.

O que essas informações nos revelam, afinal? Que a situação na Amazônia está, de fato, melhorando gradativamente, graças às iniciativas dos três setores (governo + empresas + ONGs) e da comunidade em geral, mas que o problema do desmatamento ainda está muito longe de ser resolvido. Saber interpretar as várias informações que aparecem em relatórios e na mídia é fundamental para traçar estratégias de preservação adequadas e entendê-las, não só no caso da floresta amazônica, como em qualquer parte do mundo.

Com informações da Agência Brasil, MMA e Globo Amazônia [1, 2] (via AmbienteBrasil) e Portal Exame.

Foto: Vôo de resgate na foz do rio Breu (Vihh/Flickr)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Carros ecológicos do presente e do futuro

Os carros elétricos e híbridos estão ganhando destaque em todo o mundo. No início do ano, o Salão do Automóvel de Detroit, um dos mais tradicionais do mundo, dedicou uma seção especial para este tipo de veículo (o Blog do Jogo Limpo fez um post sobre o evento). O Salão de Nova York, que começa hoje (2 de abril), deve seguir a tendência. E as novas legislações prometem dar fôlego à categoria.

Entre os modelos desenvolvidos pelas montadoras, alguns já estão no mercado ou serão lançados em breve, enquanto outros são apenas conceituais, mas podem ser uma prévia de como será o "carro do amanhã". Veja alguns dos lançamentos:

General Motors


Do G1 (foto - AP):
Após encerrar a fabricação dos utilitários Hummer, símbolo dos carros americanos grandes e 'beberrões', a GM anuncia um novo carro conceito que representa a preocupação da marca com o futuro e o meio ambiente.

O Electric Networked Vehicle (EN-V), desenvolvido pela GM em parceria com a chinesa SAIC, foi revelado nesta quarta-feira (24) na China. A novidade será uma das atrações do Centro de Exposições Mundial 2010 que ocorrerá em Xangai, entre 1º de maio e 31 de outubro, com o tema "Better City, Better Life" (Melhor Cidade, Melhor Vida).

O carrinho para duas pessoas tem 400 kg e 1,5 metro de comprimento e 1,5 metro de largura. Equipado com motor elétrico, o modelo chega a velocidade máxima de 40 km/h e não emite poluentes.

Citroën


Do Portal Exame (foto - Divulgação):
A Citroën apresentou seus projetos sustentáveis em três mostras francesas. Durante o Salão Ever (sigla em francês para veículos ecológicos e energias renováveis), evento que terminou segunda-feira (29), em Mônaco, a marca expôs dois automóveis elétricos comercializados desde o início do ano na Europa: o Berlingo First Electrique e o C-Zero (foto). [...]

Com o Berlingo First Electrique, a marca está entre os primeiros fabricantes a lançar um veículo inteiramente elétrico. Já o C-Zero é um modelo de carro pequeno com solução 100% elétrica, que resulta em zero litro de combustível, zero emissões de CO2 e zero ruído.

Mitsubishi

O Em Cima da Hora, da Globo News, mostrou que a empresa está lançando o primeiro carro elétrico popular no Japão: