Por Felipe Saldanha - Cobertura exclusiva do Blog do Jogo Limpo
Sustentabilidade, lixo e consumismo foram alguns dos assuntos abordados na mesa redonda “Integridade Ecológica - Responsabilidade socioambiental do Brasil e soluções relacionadas à geração de lixo”, parte do III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade. O Blog do Jogo Limpo acompanhou o evento por conferência. O primeiro a falar foi André Trigueiro, jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e apresentador da Globo News.
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André pediu licença para não se limitar ao tema do lixo e fez comentários sobre jornalismo e sustentabilidade. Ele afirmou que a informação precisa transformar, e que o jornalista é pretensioso – no bom sentido – porque sabe que a informação pode gerar debate e inquietação. Trigueiro também disse que todos estão “tirando casquinha” da sustentabilidade, pois o termo foi banalizado. De universidades a redes de supermercado, tudo virou “sustentável”.
O jornalista criticou as empresas que qualificam seus próprios projetos como sustentáveis, mas que não estão fazendo tudo o que poderiam. Citou exemplos de bancos e indústrias que, em suas publicidades, passaram uma imagem de ambientalmente corretos, mas depois foram alvo de denúncias e críticas. Estes exemplos, para ele, nos mostram como identificar se estamos no caminho certo da sustentabilidade e comunicando com ética.
Trigueiro falou ainda sobre a necessidade de o próximo presidente mudar paradigmas, saber escolher as pessoas certas e implantar políticas sustentáveis. Por fim, apontou a urgência do atual momento histórico, dizendo que é preciso mudar, e rápido. “A humanidade não dá saltos, mas precisamos correr contra o tempo”, concluiu.
Em seguida, passou-se a palavra para Rainer Nolvak, empresário e organizador do “Let’s Do It 2008”, uma ação cívica com 50 mil voluntários que praticaram a limpeza da Estônia em apenas um dia. Nolvak mostrou que o problema do lixo nas florestas do país era crônico e que já estava “perdendo as esperanças”. A solução foi juntar forças para fazer alguma coisa, o que gerou um poder absurdamente grande, segundo ele.
Para efetivar a ação, o empresário percebeu que, em primeiro lugar, seria necessário tocar as pessoas, sensibilizando-as. Depois, procurou a mídia, que inicialmente viu a ideia com desconfiança. Por fim, pediu ajuda aos políticos e às empresas. Segundo Nolvak, ao abrir o problema para todos, ele descobriu que, quando mostramos nossas fraquezas, as pessoas ficam do nosso lado.
A ação, bem-sucedida, foi divulgada no YouTube, o que motivou pessoas de outros países a entrar em contato e repetir a experiência. De acordo com o empresário, depois do Let’s Do It, as pessoas passaram a ter um sentimento de pertencimento e de que podem mudar as coisas. “Com amor, há muito mais possibilidade de dar certo”, afirmou. Nolvak acredita que a ideia também pode dar certo no Brasil.
Logo depois, falou Tião Santos, representante do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. Ele questionou o fato de os catadores – 1 milhão no Brasil – serem vistos em várias cidades não como trabalhadores, mas como “vagabundos”. Para Tião, não é possível discutir sustentabilidade sem pensar no próprio papel como cidadão. Ele afirmou que sustentabilidade não é um negócio, é uma responsabilidade; não é um favor, é uma obrigação. Sobre a reciclagem, apontou que o Brasil alcança índices invejáveis, mais por consequência da questão financeira do que da educação ambiental, uma vez que muitas pessoas dependem da reciclagem para sobreviver. Concluiu dizendo que sustentabilidade e ética andam juntos.
Na sequência, falou Ferrez, autor de livros como “Capão Pecado”, “Manual Prático do Ódio” e “Fortaleza da Desilusão”. O escritor é dono da 1DASUL, confecção aberta por ele em uma garagem, motivado por não entender porque, na favela, valorizavam-se tanto as roupas de grife. Na 1DASUL, a sociedade participa tanto no processo de fabricação como na compra. Os produtos – diversificados: de camisetas e bonés a adesivos – são identificados com o nome da comunidade.
Ferrez também criticou o fato de a sociedade negra não ser bem representada. Na TV, os personagens negros não recebem papeis de destaque. Depois, apontou que as classes mais carentes são oprimidas e têm baixa autoestima, porém, por outro lado, precisam se valorizar, uma vez que não se dá valor ao que é nosso. Como exemplo, citou um quadrinho amazonense que não foi publicado no Brasil, mas apenas na Espanha.
Durante o momento final, em que todos falaram, Trigueiro afirmou que precisamos desarmar a bomba relógio da sociedade de consumo e que a elite consome muito mais que necessita. O agravante é que as classes C, D e E querem consumir aquilo que as classes A e B consomem. A inclusão social precisa levar em conta as consequências do consumo desenfreado. Em seguida, foi perguntado se o consumismo incentiva a criminalidade. Ferrez respondeu que sim, especialmente entre as classes que não tem acesso a tantas informações. Para ele, nestas classes, se você tem uma roupa de marca, você “é alguém”
André Trigueiro encerrou o evento, falando que, historicamente, assuntos ambientais são novos em nossa cultura. Logo depois, provocou: qual é a função social do jornalista em um mundo que vive uma crise sem precedentes? E como é possível, em uma universidade, após quatro anos, um recém-formado ser um analfabeto ambiental? Por fim, criticou o processo de aprovação da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e pontuou: “Não existe fonte totalmente limpa de energia. Precisamos escolher a que tem menor impacto”.
Foto: dleafy/sxc.hu
2 comentário(s):
Votarei no Serra tb por isso aqui:
http://serraescreve.blogspot.com/search/label/ahmadinejad
http://serraescreve.blogspot.com/search/label/israel
Participei do Forum(na platéia )e gostei muito........André Trigueiro fala destes problemas com muita paixão.....seu envolvimento é muito grande e sincero.....Vc costuma ver o Cidades e SoluçõesÊu não perco um programa.....bjcas
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