domingo, 30 de maio de 2010

Especial: A cronologia de um desastre

Atualizado em 22 de julho de 2010. Veja informações mais recentes no fim do post.

O vazamento de petróleo no Golfo do México é a maior tragédia ambiental da história dos Estados Unidos, superando o acidente com o petroleiro Exxon Valdrez, que em 1989 se chocou com um recife no Alasca e despejou aproximadamente 260 mil barris de óleo no mar. Relembre os fatos mais marcantes do desastre e veja fotos:

Garça no meio de mangue contaminado com petróleo, em ilha afetada pelo acidente, em 23 de maio. (Foto: AP Photo/Gerald Herbert via Boston.com)

20 de abril – A plataforma de petróleo “Deepwater Horizon”, da empresa British Petroleum (BP), localizada na costa da Lousiana, ao sul dos EUA, no Golfo do México, explode e mata 11 funcionários, naufragando dois dias depois.

26 de abril – Depois de afirmar que não havia vazamento, a BP volta atrás e admite que 1000 barris de petróleo estavam sendo liberados no mar por dia, a 1500 metros de profundidade. Isso forma uma maré negra com mais de 1500 quilômetros quadrados de extensão.

28 de abril – Robôs submarinos tentam conter o vazamento, sem sucesso. Quando a mancha fica a 40 quilômetros dos pântanos da Lousiana, as autoridades decidem queimá-la, formando nuvens tóxicas e deixando resíduos no mar. O vazamento é visível do espaço.

29 de abril – A velocidade do vazamento chega a 5 mil barris por dia, ou 800 mil litros. Criadores de camarão e o governo estadunidense acusam a BP de ser a responsável pelo desastre.

“O que é certo, a partir de agora, é que o meio ambiente e a economia da região do Golfo do México vão ser novamente postos à prova, depois de atingidos de maneira irremediável.”
David Pellow, professor da Universidade de Minnesota especializado em questões do meio ambiente

Barco de camarão é usado para coletar petróleo na região do desastre, no dia 5 de maio. (Foto: AP Photo/Eric Gay via Boston.com)

30 de abril – Apesar dos esforços – entre eles, cercar a mancha com barreiras flutuantes – a mancha atinge a costa dos EUA. A pesca na região é proibida.

05 de maio – As ações da BP são desvalorizadas em quase 20% desde o início do desastre. A empresa afirma que usaria uma estrutura metálica gigante, em forma de funil, para tentar recolher o petróleo, além de oferecer milhões de dólares para projetos de recuperação nos estados afetados. Milhares de trabalhadores civis e militares, além de 2 mil voluntários, trabalham para bloquear a mancha.

08 de maio – O “funil” chega a ser instalado, mas não funciona e é retirado. Uma semana depois, outra tentativa fracassa: usar um tubo para mandar o óleo a um navio na superfície.

18 de maio – A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) fecha uma área de pesca de quase 119 mil km², o equivalente a 19% das águas do país.


Petróleo flutua ao redor de barreiras e em direção a pântanos no delta do Mississipi, em 23 de maio. (Foto: Reuters/Daniel Beltra/Greenpeace via Boston.com)

23 de maio – O secretário do Interior americano, Ken Salazar, se diz “zangado e frustrado” por a BP não ser capaz de controlar o vazamento, e ameaça expulsar a empresa do país. A BP concorda em pagar uma multa superior a 75 milhões de dólares. (Segundo a legislação americana, este seria o valor máximo que a empresa poderia pagar.)

27 de maio – Novas estimativas, do Centro de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos, revelam que entre 12 mil e 25 mil barris de petróleo (quase 4 milhões de litros) podem estar sendo despejados diariamente no oceano. Depois de tentar conter o vazamento com uma mistura de lama e cimento, as autoridades anunciam que a operação foi um sucesso.

29 de maio – O The New York Times revela que relatórios internos da BP já questionavam a segurança do poço que explodiu. No dia seguinte, Carol Browner, assessora para meio ambiente e energia da Casa Branca, afirma em programa de TV que este é “possivelmente o pior desastre ecológico” da história dos EUA.

30 de maio – Depois de gastar quase 1 bilhão de dólares, a BP afirma que a tentativa com lama e cimento falhou. Dois dias antes, a empresa tentou tampar o rombo com entulho – até bolas de golfe velhas foram usadas –, mas nada adiantou. O governo calcula um vazamento total de 68 milhões de litros. O presidente dos EUA, Barack Obama, já visitou a região duas vezes e assegura que está dando assistência aos moradores do local.

[Atualização:]

04 de junho – Um funil colocado sobre o vazamento começa a capturar cerca de mil barris de petróleo por dia (o vazamento agora é estimado entre 12 mil a 19 mil barris diários). O funil recolhe mais da metade do fluxo de óleo para navios na superfície.

Junho e julho – Os gastos da BP chegam próximos aos 4 bilhões de dólares, incluindo a quantia necessária para conter e limpar o petróleo e as multas pagas às autoridades americanas. O valor para indenizar as vítimas pode ultrapassar 20 bilhões de dólares. (Fonte: AFP via G1).

12 de julho – O vazamento é estimado de 35 a 60 mil barris de petróleo por dia. O funil, que já recuperava cerca de 25 mil barris diariamente, é trocado por outro, mais eficiente, que pode capturar o óleo na totalidade. (Fonte: AFP via G1)

Espero que isso [o vazamento de petróleo] ajude a nos darmos conta de que temos que deixar os combustíveis fósseis e que existem alternativas. Espero que nos lembre que devemos repensar a forma como exploramos nossos oceanos.
Philippe Cousteau, ecologista, neto do explorador francês Jacques-Yves Cousteu

14 de julho – Cientistas descobrem que o acidente está alterando a cadeia alimentar submarina, matando ou contaminando algumas criaturas e estimulando o desenvolvimento de outras, mais adaptadas ao ambiente sujo. Os pesquisadores advertem que todo o ecossistema e a indústria pesqueira da região estão em perigo. (Fonte: AP via Estadão)

15 de julho – A BP usa uma tampa para vedar e paralisar o vazamento, e pretende mantê-la até construir outros poços que resolvam definitivamente o vazemento. (Fonte: BBC)

19 de julho – O funcionário do governo americano encarregado da limpeza do vazamento, almirante Thad Allen, alerta a BP para o risco de que a tampa esteja desviando o fluxo do petróleo para rochas ao redor do poço danificado, o que poderia gerar vazamentos futuros. Há suspeitas de que o vazamento não foi paralisado. (Fonte: BBC)

No mesmo dia, Obama assina decreto que lança nova política marítima dos EUA, destinada a favorecer a proteção dos ecossistemas costeiros do país. O acidente já é reconhecido como o pior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. (Fonte: France Presse via G1)

21 de julho – Quatro das maiores petroleiras do mundo anunciam um esforço conjunto para criar um sistema de resposta rápida a derramamentos no Golfo do México, com custo de 1 bilhão de dólares. (Fonte: BBC via G1)

Mais:
Galeria de fotos do acidente (Boston.com)
Fotos históricas de acidentes com petróleo (The Washington Post)

As informações foram retiradas dos seguintes sites e agências de notícias: INFO Online, G1, Deutsche Welle, Reuters, EFE, Abril, BBC Brasil, France Presse, AP e Veja.com.

domingo, 23 de maio de 2010

#3fics - Sustentabilidade passa pela sociedade

Por Felipe Saldanha - Cobertura exclusiva do Blog do Jogo Limpo


Sustentabilidade, lixo e consumismo foram alguns dos assuntos abordados na mesa redonda “Integridade Ecológica - Responsabilidade socioambiental do Brasil e soluções relacionadas à geração de lixo”, parte do III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade. O Blog do Jogo Limpo acompanhou o evento por conferência. O primeiro a falar foi André Trigueiro, jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e apresentador da Globo News.

Leia a cobertura do @JogoLimpo no Twitter - #3fics

André pediu licença para não se limitar ao tema do lixo e fez comentários sobre jornalismo e sustentabilidade. Ele afirmou que a informação precisa transformar, e que o jornalista é pretensioso – no bom sentido – porque sabe que a informação pode gerar debate e inquietação. Trigueiro também disse que todos estão “tirando casquinha” da sustentabilidade, pois o termo foi banalizado. De universidades a redes de supermercado, tudo virou “sustentável”.

O jornalista criticou as empresas que qualificam seus próprios projetos como sustentáveis, mas que não estão fazendo tudo o que poderiam. Citou exemplos de bancos e indústrias que, em suas publicidades, passaram uma imagem de ambientalmente corretos, mas depois foram alvo de denúncias e críticas. Estes exemplos, para ele, nos mostram como identificar se estamos no caminho certo da sustentabilidade e comunicando com ética.

Trigueiro falou ainda sobre a necessidade de o próximo presidente mudar paradigmas, saber escolher as pessoas certas e implantar políticas sustentáveis. Por fim, apontou a urgência do atual momento histórico, dizendo que é preciso mudar, e rápido. “A humanidade não dá saltos, mas precisamos correr contra o tempo”, concluiu.

Em seguida, passou-se a palavra para Rainer Nolvak, empresário e organizador do “Let’s Do It 2008”, uma ação cívica com 50 mil voluntários que praticaram a limpeza da Estônia em apenas um dia. Nolvak mostrou que o problema do lixo nas florestas do país era crônico e que já estava “perdendo as esperanças”. A solução foi juntar forças para fazer alguma coisa, o que gerou um poder absurdamente grande, segundo ele.

Para efetivar a ação, o empresário percebeu que, em primeiro lugar, seria necessário tocar as pessoas, sensibilizando-as. Depois, procurou a mídia, que inicialmente viu a ideia com desconfiança. Por fim, pediu ajuda aos políticos e às empresas. Segundo Nolvak, ao abrir o problema para todos, ele descobriu que, quando mostramos nossas fraquezas, as pessoas ficam do nosso lado.

A ação, bem-sucedida, foi divulgada no YouTube, o que motivou pessoas de outros países a entrar em contato e repetir a experiência. De acordo com o empresário, depois do Let’s Do It, as pessoas passaram a ter um sentimento de pertencimento e de que podem mudar as coisas. “Com amor, há muito mais possibilidade de dar certo”, afirmou. Nolvak acredita que a ideia também pode dar certo no Brasil.

Logo depois, falou Tião Santos, representante do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. Ele questionou o fato de os catadores – 1 milhão no Brasil – serem vistos em várias cidades não como trabalhadores, mas como “vagabundos”. Para Tião, não é possível discutir sustentabilidade sem pensar no próprio papel como cidadão. Ele afirmou que sustentabilidade não é um negócio, é uma responsabilidade; não é um favor, é uma obrigação. Sobre a reciclagem, apontou que o Brasil alcança índices invejáveis, mais por consequência da questão financeira do que da educação ambiental, uma vez que muitas pessoas dependem da reciclagem para sobreviver. Concluiu dizendo que sustentabilidade e ética andam juntos.

Na sequência, falou Ferrez, autor de livros como “Capão Pecado”, “Manual Prático do Ódio” e “Fortaleza da Desilusão”. O escritor é dono da 1DASUL, confecção aberta por ele em uma garagem, motivado por não entender porque, na favela, valorizavam-se tanto as roupas de grife. Na 1DASUL, a sociedade participa tanto no processo de fabricação como na compra. Os produtos – diversificados: de camisetas e bonés a adesivos – são identificados com o nome da comunidade.

Ferrez também criticou o fato de a sociedade negra não ser bem representada. Na TV, os personagens negros não recebem papeis de destaque. Depois, apontou que as classes mais carentes são oprimidas e têm baixa autoestima, porém, por outro lado, precisam se valorizar, uma vez que não se dá valor ao que é nosso. Como exemplo, citou um quadrinho amazonense que não foi publicado no Brasil, mas apenas na Espanha.

Durante o momento final, em que todos falaram, Trigueiro afirmou que precisamos desarmar a bomba relógio da sociedade de consumo e que a elite consome muito mais que necessita. O agravante é que as classes C, D e E querem consumir aquilo que as classes A e B consomem. A inclusão social precisa levar em conta as consequências do consumo desenfreado. Em seguida, foi perguntado se o consumismo incentiva a criminalidade. Ferrez respondeu que sim, especialmente entre as classes que não tem acesso a tantas informações. Para ele, nestas classes, se você tem uma roupa de marca, você “é alguém”

André Trigueiro encerrou o evento, falando que, historicamente, assuntos ambientais são novos em nossa cultura. Logo depois, provocou: qual é a função social do jornalista em um mundo que vive uma crise sem precedentes? E como é possível, em uma universidade, após quatro anos, um recém-formado ser um analfabeto ambiental? Por fim, criticou o processo de aprovação da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e pontuou: “Não existe fonte totalmente limpa de energia. Precisamos escolher a que tem menor impacto”.

Foto: dleafy/sxc.hu

domingo, 16 de maio de 2010

Índice mede desempenho ambiental dos países


A Islândia é o país mais bem colocado em relação aos desafios do controle de poluição e gestão de recursos naturais, de acordo com o 2010 Environmental Perfomance Index - EPI (Índice de Desempenho Ambiental), produzido por uma equipe de especialistas ambientais das Universidades de Yale e Columbia, nos Estados Unidos. É a terceira edição do relatório, revisto a cada dois anos desde 2006.

O EPI classifica 163 países, dando uma nota de 0 a 100 com base em 25 indicadores reunidos em dez categorias: saúde ambiental, qualidade do ar, gestão de recursos hídricos, biodiversidade e habitat, florestas, pesca, agricultura e mudanças climáticas. Pelos investimentos e políticas voltadas para a sustentabilidade a longo prazo, a Islândia ficou com 93,5 pontos. No outro extremo da lista, está Serra Leoa, com 32.

Caindo vinte e oito posições em relação a 2008, o Brasil ficou em 62º lugar, com 63,4 pontos – um décimo e uma posição atrás dos Estados Unidos. Nosso país se saiu bem em indicadores como emissão de poluentes e qualidade da água, mas pecou em outros, como saneamento básico e doenças relacionadas com o meio ambiente. Mesmo assim, os brasileiros ficam bem a frente de outras nações em desenvolvimento, como China (121º) e Índia (123º) – enquanto os EUA estão muito atrás de países como Reino Unido (14º), Alemanha (17º) e Japão (20º).

No EPI, os países são reunidos em grupos de acordo com semelhanças geográficas e econômicas, permitindo com que sejam localizados os melhores exemplos de cada região. O relatório revela ainda que fatores políticos influenciam decisivamente o desempenho, incluindo o rigor na regulamentação e a ausência de corrupção.

Para a elaboração do EPI, foram utilizados dados fornecidos por instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas e grupos de pesquisa. “Dados de alta qualidade combinados com análises estatísticas apropriadas podem certamente ajudar políticos a identificar problemas (...) e estimular investimentos públicos na proteção ambiental de forma mais eficaz”, disse Jay Emerson, professor de estatística em Yale e um dos líderes do relatório.

Acesse o EPI clicando aqui.

Com informações do release oficial e do blog AN Verde.

Foto: reprodução (capa do resumo para políticos do EPI).

domingo, 9 de maio de 2010

Cientistas criam vírus para produzir combustível



Uma equipe de pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) encontrou uma maneira de reproduzir o processo pelo qual as plantas usam o poder da luz do sol para quebrar moléculas de água e produzir combustível, permitindo seu crescimento. O segredo está em um vírus modificado que funciona como uma espécie de “abrigo” para componentes microscópicos que conseguem dividir a água em átomos de hidrogênio e oxigênio.

Depois de ser retirado da água através do uso da luz solar, o hidrogênio pode ser armazenado e utilizado a qualquer momento para gerar energia, através do uso de uma célula de combustível, ou sendo transformado em líquido e utilizado diretamente em carros e caminhões. O processo do MIT dispensa o uso de eletricidade para a quebra da água.

A descoberta foi publicada no início de abril, na revista Nature Nanotechnology. A líder da equipe, professora Angela Belcher (foto), da área de Ciências e Engenharia de Materiais e Engenharia Biológica, explica que os cientistas embutiram em um vírus os pigmentos vegetais que atuam na absorção de luz solar. É como se o pigmento fosse uma antena, que captura a luz e transfere a energia ao longo do vírus, como um fio.

Por enquanto, o hidrogênio é obtido na forma de prótons e elétrons. Os pesquisadores estão desenvolvendo a segunda parte do sistema, que vai combinar essas partículas em átomos e moléculas e permitir sua utilização na geração de combustível. A equipe também está em busca de materiais mais comuns e baratos.

Por outro lado, o professor Thomas Mallouk, da área de Química e Física de Materiais, que não esteve envolvido no projeto, adverte: “Há uma combinação desencorajadora de problemas a ser resolvida antes que este ou qualquer outro sistema artificial de fotossíntese possa ser realmente útil para conversão de energia”. Segundo o professor, para ter competitividade, o processo precisa ser pelo menos dez vezes mais eficiente que a fotossíntese natural e capaz de ser repetido bilhões de vezes, o que seria difícil de acontecer em um futuro próximo.

Já a professora Belcher não especula sobre quanto tempo vai levar para a novidade chegar ao mercado, mas acredita que dentro de dois anos haverá um protótipo que poderá realizar o processo completo de quebra da água em oxigênio e hidrogênio, usando um sistema autossustentável e durável.

Traduzido e adaptado do press release do MIT.

Foto: Dominick Reuter/MIT

sábado, 1 de maio de 2010

Bag-in-box: vilã ou mocinha?


Recebemos esta semana um e-mail que alertava sobre um novo tipo de embalagem, a bag-in-box, constituída por uma bolsa plástica com uma válvula, colocada dentro de uma caixa de papelão. É utilizada principalmente para o acondicionamento de líquidos. O texto cita o fato de as sacolas plásticas terem se difundido e contribuído para o aumento na produção de lixo no país, e que sua produção tem caído frente ao uso de sacolas reutilizáveis. Entretanto, a bag-in-box seria uma ameaça ao meio ambiente:
Enquanto a maioria caminha nesta nova investida [reduzir ou substituir as sacolinhas] - a tendência ao banimento das sacolas plásticas é mundial - algumas empresas insistem em se manter na contramão. É o caso de duas empresas que em parceria desenvolveram recentemente para o mercado brasileiro de refeições coletivas uma embalagem intitulada “Bag-in-Box”. O problema deste lançamento é que a maior vilã do momento - a sacola plástica – aparece “disfarçada” dentro de uma caixa de papelão.

Trata-se de uma embalagem mista usada para envase de óleo de soja, cujo saco plástico que fica em seu interior pesa 122 gramas - peso equivalente a 46 sacolas plásticas de supermercados. Este resultado é a comprovação de que este modelo de embalagem é poluente e contribui aos milhões de toneladas de sacolas plásticas descartadas como lixo urbano.
O acordo citado no texto é uma parceria entre a Orsa (fabricante de embalagens) e a Louis Dreyfus Commodities (multinacional do setor de grãos e produtos primários). Entretanto, a bag-in-box não é utilizada exclusivamente para o envase de óleo de soja. A Vinícola Aurora começou a vender seus vinhos nessa embalagem em 2006. Segundo a empresa, "esta tecnologia de armazenamento evita que o vinho entre em contato com o ar, preservando as características do produto por várias semanas depois de aberto".

O Embalagem Sustentável apresenta a bag-in-box como uma iniciativa ecológica. O blog afirma que, em substituição à garrafa de vidro, há redução de 55% na emissão de carbono e 85% nos resíduos em aterros, e cita o exemplo da Boho Vineyards, empresa norte-americana que ainda agregou outros valores à embalagem: "O papel da caixa é feito em papel craft cru, sem o uso de cloro para o clareamento do papel. Ele é de papel 95% reciclado e foi impresso com tinta à base de soja".

O Cosmo On Line ainda cita outro uso possível para as bag-in-boxes: o transporte de produtos tóxicos. Por ser mais resistente, evita o derramento do conteúdo, o que poderia causar danos ao meio ambiente, e "requer 12 vezes menos material para ser fabricada do que uma embalagem rígida".

O uso da bag-in-box pode até ser criticado no caso do óleo do soja, especialmente porque não é possível enviá-la para reciclagem, a menos que seja lavada. O e-mail ainda apontava que a embalagem teria sido "desenvolvida para disputar mercado com a lata de aço, a qual, segundo afirmam os especialistas, é 100% reciclável e degradável, além de ter valor comercial como sucata".

Por outro lado, vale lembrar que, neste caso, o público-alvo do óleo é o mercado de refeições coletivas, que adquire esse produto em embalagens bem maiores que as tradicionais, voltadas ao consumidor final e encontradas nos supermercados. Além disso, segundo a DuPont, fabricante do material usado pela Orsa, a bag-in-box promove redução de custos com embalagem e proporciona redução do volume de lixo produzido.

Se a bag-in-box for utilizada como uma solução inteligente para o envase de produtos, então a sua disseminação será bem-vinda. Se ela começar a tirar o espaço de embalagens menos prejudiciais ao ambiente, aí devemos ficar de olho.

Observação 1: esta não é uma crítica ao autor do e-mail. Nós resolvemos divulgar e confrontar as informações por acreditar que uma conscientização ecológica de fato passa pela correta identificação e conhecimento dos problemas ambientais, analisando todos os lados envolvidos.

Observação 2: sobre a pergunta do título, não é possível definir se é a bag-in-box é vilã ou mocinha. Isso depende do uso que será feito, pelos motivos já apresentados. Tentar encontrar a resposta é praticar o maniqueísmo (isso foi rapidamente abordado no último post).

+ no Blog do Jogo Limpo: Especial sobre sacolas plásticas


Foto: Divulgação