segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A COP16 e o caçador solitário [EXCLUSIVO]

Por Samuel Silva - contribuição especial


Samuel Silva, que assim como o Pedro Soares é um dos 21 integrantes brasileiros do Programa Climate Generation, do British Council, fez um artigo sobre a COP16 com a sua visão sobre o evento. Confira!

A COP 16 de Cancun e a cabana de Dersu Uzala

Mais um final de ano vem chegando e renascem as esperanças de vermos os líderes mundiais concretizarem um acordo global para reduzir as emissões dos gases de Efeito Estufa.

Desta vez o belíssimo balneário de Cancun, no México, é sede da 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. De 29 de novembro a 10 de dezembro, a cidade hospeda a expectativa de não ser apenas conhecida como um lugar de praias paradisíacas, mas também por emprestar seu nome para o novo acordo mundial sobre mudanças climáticas, que substituirá o Protocolo de Kyoto, a partir de 2012. Pois, como rege a tradição diplomática, todo acordo internacional é batizado com o nome da cidade onde foi assinado.

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Durante 16 anos várias cidades viram suas expectativas se tornarem frustração. De Berlin na Alemanha em 1995 a Copenhagen na Dinamarca em 2009, somente Kyoto no Japão em 1997 estampou seu nome e esperanças em um acordo mundial sobre mudanças climáticas, que, infelizmente, vem patinando desde então. À época, os Estados Unidos de George W. Bush, que respondiam sozinhos por 22% das emissões mundiais dos gases do aquecimento global, acreditavam que diminuir suas emissões significaria recessão, desemprego, crise mundial e etc.

Bem, ele só esqueceu de murchar a bolha do sistema imobiliário.

Mas, e agora? Será que as atuais lideranças globais conseguirão escrever seus nomes nos livros de história, como aqueles heróis que conciliaram os interesses da política interna de seus países, com equilíbrio ambiental e desenvolvimento econômico mundial, o qual ainda se sustenta nos combustíveis fósseis (carvão mineral e petróleo)? Nesta difícil equação devemos acrescentar a economia da União Européia andando de lado, o todo poderoso Estados Unidos com previsão de crescimento anêmico em 2011, a China comunista, que não para de crescer, querendo colocar 400 milhões de pessoas na sociedade de consumo até 2020, e mais Brasil, Índia e Rússia com previsão de crescimento na casa dos dois dígitos.

Ou estes líderes serão os representantes de uma sociedade que consumiu os recursos do planeta de forma desenfreada, que cobriu o planeta com um cobertor de gases do Efeito Estufa e que se esqueceu de exemplos como o do solitário caçador asiático eternizado no filme Dersu Uzala, obra prima do cineasta Akira Kurosawa? Quando Dersu passa por uma cabana de descanso, às margens de uma trilha, ele para sua jornada por alguns instantes e começa a consertar seu telhado, repõe o estoque de lenha e, por fim, solicita ao chefe da expedição uma porção de sal, fósforo e arroz. Os soldados russos que faziam parte daquela expedição de levantamento topográfico na Sibéria riem daquela atitude insana do nativo, enquanto o capitão russo observa aquela cena e relata o ensinamento em seu diário:

“Dersu mostra toda sua nobreza ao se preocupar com os próximos hóspedes desta cabana sem se preocupar em conhecê-los.”

Bem, quanto às pretensões do balneário mexicano, já me parecem devaneios.

1 comentário(s):

meundo disse...

Ok meu caro, bela postagem, a propósito, seu blog é excelente, está de parabéns!