quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Biocombustível: vilão ou mocinho?

Os EUA abriram as portas para o etanol brasileiro, feito de cana-de-açúcar, mas as plantações ameaçam o Cerrado e a Amazônia. 

Na semana passada, os produtores brasileiros de etanol tiveram uma vitória. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) anunciou que o etanol feito da cana-de-açúcar será utilizado para ajudar o país a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa (GEE). Vale lembrar que este tipo de etanol é mais eficiente que o etanol de milho, produzido pelos norte-americanos. Segundo a EPA, o álcool brasileiro pode reduzir as emissões de GEE nos EUA em até 61%, comparado com a gasolina, ao longo de trinta anos.

Para o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcos Jank, a decisão da EPA “é o passaporte do nosso etanol para o mundo”. Em entrevista ao G1, Jank disse que, apesar do fracasso de Copenhague, “o mundo acordou para a questão da mudança do clima” e fez um alerta: a descoberta do pré-sal não pode esfriar os investimentos em biocombustíveis. Para Jank, “podemos ser grandes produtores e exportadores de petróleo, mantendo uma matriz energética limpa no país”.

Por outro lado, nessa semana, pesquisadores da Universidade de Kassel (Alemanha) publicaram um estudo afirmando que as plantações de cana-de-açúcar e soja (matéria-prima para produzir biodiesel, outro biocombustível) podem tomar o lugar das pastagens. Com isso, a pecuária pode avançar sobre a Amazônia e o Cerrado e ser a responsável por metade de todo o desmatamento no Brasil até 2020. Isso causaria emissões de carbono que levariam 250 anos para ser compensadas pela troca de petróleo por biocombustível.

Os pesquisadores ainda dizem que seus cálculos foram otimistas e esperam que a produtividade agrícola cresça nos próximos anos. O líder do estudo, o ecólogo paulista David Lapola, disse também que é possível contornar o problema recuperando pastos degradados e abandonados. O texto causou polêmica: a secretária nacional de Mudança Climática, Suzana Kahn Ribeiro, afirmou que “se esse alerta pretende criar desconfiança em relação a nossos produtos, acho ruim”.

Não é a primeira vez que os biocombustíveis são colocados em xeque. Em 2008, pesquisadores disseram que o seu impacto ambiental pode ser maior que o da gasolina. No mesmo ano, Hugo Chávez afirmou que a sua produção equivale a “alimentar automóveis e não a humanidade”. Lula, por sua vez, disse que vê “com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão”.

Pelo visto, a questão ainda continua sem resposta: biocombustível, vilão ou mocinho?

Com informações da Agência Estado via G1, Folha de S. Paulo e Envolverde/Agência Amazônia

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Foto: bjearwicke/stock.xchng

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