domingo, 11 de abril de 2010

A Amazônia e os números


Depois de tanto falar sobre aquecimento global aqui no Blog, resolvemos abordar essa semana outro assunto igualmente importante (mas, de certa forma, relacionado): o desmatamento da Amazônia.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou a menor taxa anual de destruição da floresta desde o início do monitoramento, em 1988: foram 7 mil km², de agosto de 2008 a julho de 2009. Diante destes dados, a nova ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou na última quinta-feira (8 de abril) – em sua primeira coletiva de imprensa após assumir a pasta, no dia 31 de março – que o governo deve revisar a meta de redução do desmatamento.

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, aprovado no fim do ano passado, prevê que o desmate deve diminuir em 80% até 2015. Mas, segundo Teixeira, no fim de 2011 a meta já poderá estar “muito abaixo” deste valor (equivalente a 6,5 mil km² de área desmatada por ano). Sem especificar valores, mas afirmando que será ousada, a ministra declarou que pretende levar a nova meta à COP16 (“sucessora” da COP15), a ser realizada no final deste ano em Cancún, no México.

Outro dado divulgado na coletiva, também anunciado pelo Inpe, foi a queda de 51% no desmatamento da floresta amazônica de agosto de 2009 a fevereiro de 2010, comparado ao mesmo período anterior. O Inpe detectou ainda redução de 90% na derrubada de árvores na Amazônia em janeiro deste ano, em comparação a janeiro de 2009.

Todos estes números podem ser animadores e sinalizar que o desmatamento está sendo controlado. Porém, é preciso ter um olhar crítico. Em primeiro lugar, quais são as reais implicações destes dados? O Inpe não recomenda a comparação entre imagens de satélite de períodos diferentes porque as nuvens interferem na medição, dificultando o trabalho de análise. Não há dados sobre o desmate em dezembro, por exemplo, porque toda a área de floresta estava encoberta. Na medição de janeiro, alguns estados chegaram a ter mais de 95% de cobertura de nuvens, como Amapá e Pará. Isso pode fazer com que áreas desmatadas em determinado mês só sejam detectadas mais tarde, em outras medições.

Em segundo lugar, outros dados sobre a Amazônia já não são tão empolgantes. Se, por um lado, em janeiro foi registrada queda, por outro, a taxa de desmatamento em fevereiro de 2010 aumentou 29%, se comparada ao mesmo mês no ano passado. O Ministério do Meio Ambiente atribuiu o crescimento justamente ao menor número de nuvens. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que faz um monitoramento independente, registrou, no mesmo período, aumento de 41% – uma comparação que, novamente, não é exata, por causa das nuvens.

O que essas informações nos revelam, afinal? Que a situação na Amazônia está, de fato, melhorando gradativamente, graças às iniciativas dos três setores (governo + empresas + ONGs) e da comunidade em geral, mas que o problema do desmatamento ainda está muito longe de ser resolvido. Saber interpretar as várias informações que aparecem em relatórios e na mídia é fundamental para traçar estratégias de preservação adequadas e entendê-las, não só no caso da floresta amazônica, como em qualquer parte do mundo.

Com informações da Agência Brasil, MMA e Globo Amazônia [1, 2] (via AmbienteBrasil) e Portal Exame.

Foto: Vôo de resgate na foz do rio Breu (Vihh/Flickr)

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